Observações
feitas nas últimas décadas sugerem que nuvens de metano brevemente se
formam em Marte durante os meses de verão. A descoberta deixou muitos
cientistas coçando suas cabeças, já que estes gás não se encaixa no
modelo da atmosfera marciana. A imagem ao lado mostra o mapa das
concentrações de metano no outono (no primeiro ano marciano que foi
observado) sobreposto em um mapa de Marte na cor verdadeira.
“Os relatório são extraordinários”, diz Kevin Zahnle, do Centro Ames de Pesquisa – NASA. “Eles
mostram o metano com um tempo de vida de dias ou mesmo semanas na
atmosfera marciana, o que não bate com o comportamento conhecido do
metano, pelo menos por um fator de 1000“.
Zahnle e seus colegas expressaram alguma dúvidas sérias sobre a
existência de metano em Marte, no documento que foi publicado dezembro
passado no jornal Icarus.
“O que estamos dizendo é que a evidência não é forte o suficiente
para deixarmos de acreditar no comportamento químico conhecido do
metano“, ele disse.
“Nós confiamos em nossos resultados“, diz Michael Mumma do Centro de Vôo Espacial Goddard, da NASA, o qual lidera um dos grupos que observaram o metano marciano. “É verdade, a mensuração é difícil, mas não impossível“.
Mumma acha que o documento de Zahnle e seus co-autores foi um
‘desserviço’, assim ele está planejando escrever uma resposta a altura.
“A comunidade precisa entender a fraqueza desse argumento“, diz ele.
Por mais de 40 anos os astrônomos têm encontrado várias indicações de
metano em Marte. Esses relatórios têm sempre gerado muita empolgação,
porque eles parecem fornecer uma pista sobre a habitabilidade de nosso
vizinho planeta.
“O metano invoca visões de vida em Marte“, explica Sushil
Atreya, da Universidade de Michigan. Isto se deve ao fato de que muito
do metano em nosso planeta vem de coisas vivas (ou que eram vivas).
Mas, evidências sólidas do metano marciano com espectroscopia
infravermelha somente surgiu há oito anos, em 2003, quando Mumma e sua
equipe captou assinaturas de metano obtidas pelo Telescópio
Infravermelho da NASA, no Havaí. O metano foi localizado em nuvens, ou
‘colunas de gás’, sobre certas regiões da superfície de Marte, com uma
densidade máxima que alcançava aproximadamente 60 partes por bilhão.
Em 2004, dois outros relatórios surgiram, os quais também indicaram a presença de metano. Dados do Mars Express
da Agência Espacial Européia (ESA), que começou a orbitar aquele
planeta em janeiro de 2004, mostrou sinais de colunas de metano, mas não
nas mesmas regiões que a equipe de Mumma encontrou. Houve uma outra
observação através do telescópio havaiano utilizado por uma equipe
franco-canadense, mas não obteve uma resolução espacial suficiente para
detectar as colunas de gás.
A equipe de Mumma fez sua própria observação em 2006, quando a órbita
de Marte novamente permitiu a detecção do gás metano a partir da
Terra. Porém, durante três anos, todos os sinais de metano tinham
desaparecido, como foi relatado em um documento publicado no Science em 2009. As implicações são de que o metano é uma ocorrência sazonal, talvez coincidindo com os verões do planeta vermelho.
Mumma e seus colegas estimaram que as colunas maiores de metano em
Marte requereriam uma fonte que liberasse o gás em taxas comparáveis aos
maiores vazamentos de hidrocarbonetos do nosso planeta, que estão no
estado da Califórnia, EUA. Embora o metano seja associado à vida, os
processos geoquímicos poderiam potencialmente produzir estes níveis do
gás em Marte. Ainda há muito debate sobre qual seria a fonte mais
provável.
O maior mistério para ser resolvido é o desaparecimento rápido do
metano em Marte. Modelos da atmosfera marciana estimam que uma molécula
de metano deveria sobreviver uma média de 300 anos antes de ser
destruída por um processo fotoquímico.
Contudo, uma análise dos dados sugere que o metano está sendo removido da atmosfera em questão de meses, ou até semanas.
Zahnle e seus colegas investigaram o quão difícil seria incluir um
‘dreno’ grande o suficiente para engolir todas as colunas de metano
observadas em um curto período de tempo. Eles concluíram que qualquer
processo químico capaz de devorar o metano poderia completamente
esculhambar com o ‘orçamento’ químico do planeta, em particular com o
oxigênio disponível.
“A oxidação do metano poderia aniquilar todo o oxigênio da atmosfera de Marte em 10.000 anos“, diz Zahnle.
“Embora os detalhes dos argumentos de Zahnle, et al, são
debatíveis, sua idéia básica sobre a não plausabilidade da grande
abundância e da vida curta do metano é muito sólida“, diz Atreya .
Mumma está ciente que suas observações não batem com o cenário estabelecido de Marte. “Mas uma medição é uma medição“, ele diz.
Certamente, é possível que Mumma e os outros encontraram o ‘fato’ que
irá demandar a revisão dos atuais modelos de Marte, mas Zahnle e outros
não estão convencidos de que este seja o caso, devido às dificuldades
em se observar o metano de Marte.
De acordo com suas argumentações, as medições da sonda são sofríveis
devido à pobre resolução espectral, que torna difícil a detecção das
linhas de absorção que identificam o metano dentro desta gama. Por
outro lado, as observações a partir da Terra têm uma resolução
suficientemente alta, porém elas são perturbadas pela atmosfera de nosso
planeta, a qual é cheia de linhas de absorção.
Para melhor explicar este ponto, imagine-se procurando por uma flor
rosa, através de óculos com lentes da mesma cor: a luz que você quer
encontrar é absorvida antes de você enxergar a flor. As assinaturas do
metano marciano tipicamente estão na zona infravermelha do espectro,
onde a nossa atmosfera é altamente absorvente.
Existem alguns truques que os astrônomos que fazem observações a
partir da Terra usam. Para começar, eles não observam Marte quando o
planeta está se movendo em nossa direção, ou se afastando. Isto evita o
efeito Doppler na luz marciana, fazendo assim as linhas do metano um pouco mais identificáveis.
Ainda assim, observadores devem construir modelos para tentar
subtrair a contaminação da atmosfera terrestre nas leituras. Para isto,
deve-se cuidadosamente levar em consideração todas as moléculas que
possam estar absorvendo a luz.
“O metano que Mumma e os outros vêem não é de uma medição crua,
mas sim de uma medição filtrada através de um sofisticado, mas
imperfeito modelo da atmosfera da Terra“, diz Zahnle.
Ele e seus coautores contendam que estes modelos podem estar
incorretamente levando em consideração os efeitos do metano de
carbono-13. A maioria do metano em nossa atmosfera é feita de
carbono-12, mas um pequena quantidade contem o isótopo carbono-13, que é
mais pesado.
As linhas de absorção do metano de carbono-13 da Terra ficam
exatamente onde a equipe de Mumma alega ter detectado a assinatura do
metano marciano. A equipe de Zahnle não acha que isto é uma
coincidência. Eles argumentam que o metano de carbono-13 está
fornecendo um sinal falso do metano marciano.
Mumma discorda. Ele diz que se eles estão subestimando o metano de
carbono-13, então este sinal falso deveria se mostrar em todos os dados
processados, mas isto não ocorre.
“Você precisa de um modelo muito sofisticado para extrair o sinal terrestre“, diz Mumma. “Achamos que nossos modelos de multicamadas são os mais avançados do mundo para esta região do espectro“.
Além disso, ele diz que o sinal de metano muda à medida que eles
olham em diferentes regiões de Marte. Este tipo de variação espacial não
seria esperado se o sinal ocorresse devido à absorção de nossa
atmosfera.
Mark Allen do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, tem seguido o
debate e ele acha que Mumma tem efetivamente respondido às dúvidas sobre
a análise espectroscópica de sua equipe.
O ponto de vista de Allen é o de que as colunas de metano que eram
visíveis em 2003, rapidamente se espalharam de tal forma que o gás não
mais é denso o suficiente para ser detectado.
“Assim, o metano não desapareceu devido a um tempo de vida química curta“, diz Allen.
Atreya tem uma opinião diferente sobre este assunto. Ele acha que as
alegações das variações sazonais nas concentrações do metano são “bem duvidosas“.
Ele acredita que uma quantidade relativamente pequena de metano tem
sido observada, mas os dados atuais parecem consistentes com ele sendo
essencialmente distribuído pelo planeta de forma uniforme.
“Na ausência de variabilidade temporal e espacial rápidas, não
haveria a necessidade de invocar uma destruição exótica, ou mecanismos
de liberação“, diz Atreya.
A maior parte da comunidade está sendo cautelosa e não está tomando
partido no debate, de acordo com Atreya. Eles estão esperando pelas
missões vindouras para decidirem quem realmente está certo.
A resposta pode vir da sonda Mars Science Laboratory da NASA, chamada de Curiosity,
ou Curiosidade em português. Ela está agendada para aterrissar em
Marte em agosto de 2012, carregando consigo um conjunto chamado de Sample Analysis at Mars
– SAM, ou em português, Análise de Amostra em Marte, que deverá
mensurar uma multitude de traços constituintes e isótopos de amostras de
gás e de sólidos. Dois dos instrumentos do SAM, o espectrómetro laser
ajustável e o espectrómetro de massa quadripolar, poderiam
potencialmente detectar um pequeno sopro de metano — ao nível de 1 parte
por bilhão, ou até menos — no ar ao redor da site da sonda, na cratera
de Gale.
Um teste mais completo está planejado para 2016, com a sonda ExoMars Trace Gas
(TGO), que será parte de uma missão dupla da NASA em conjunto com a
ESA. O TGO irá fazer varreduras da atmosfera à procura de gases
exóticos, tais como o metano.
Allen diz que muitas pessoas estão presumindo que a única motivação
para o TGO é a de confirmar a presença de metano, mas a sonda também irá
executar outros experimentos importantes.
Zahnle questiona se todos os esforços para procurar por metano em Marte valerão a pena no final, “mas dada a maneira com que a história avança, isto deve ser feito“.
Fonte: OVNIhoje
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